sábado, 7 de abril de 2012

Passei horas em frente duma folha em branco,

sem saber o que escrever, como começar uma carta, como contar o que sinto, o que penso, para esclarecer assuntos pendentes que precisam serem resolvidos; nunca fui boa nisso, se as pessoas quisessem saber se eu estava triste ou feliz, preocupada, agitada, ansiosa, tinham literalmente que adivinhar, sou um poço, que por mais que as pessoas o vejam transbordar, ele seca rápido, ele é vazio. As pessoas tanto podem me ver esbanjando sorrisos, como quieta num canto, com o pensamento longe. Guardei muita coisa, não chorei o quanto deveria ter chorado, detestei abraços sufocantes, beijos exagerados, carinho demais me deixavam tonta, e ainda deixam; não me pergunte por que, só sei que sou assim desde que me lembro, por isso nunca fui de dar afeto. Sou educada, sorrio, mas não sei elogiar pessoas, chamar-las de linda, flor, querida, anjo, … por isso me dou bem com crianças, não é preciso agradar-las com elogios, nem fazer cena.
As vezes me culpo, já disse “eu te amo” e “vai ser pra sempre” sabendo que não amava e já pensando em acabar na semana seguinte, já disse não para pessoas que disseram-me inúmeras vezes sim, fiz coisas por mal gosto e já desejei mal a alguém próximo, xinguei pessoas via telepatia. Já calei por medo de ouvir uma resposta, deixei de perguntar também por medo, já calei quando deveria ter dado uma boa resposta, formulei milhares de respostas que poderiam ter evitado aquela briga, já pensei tanto em uma resposta e na hora não fui capaz de usar-la.
Já menti, omiti, rementi. Chorei pelo garoto errado e deixei de chorar pelo certo. Já quis me matar por minha vida ser uma merda, já quis me matar por pura curiosidade, para ver o que há após a morte. Já duvidei que Deus existe, e tentei me livrar dessa dúvida por medo, também já tentei me livrar de outros pensamentos por medo. Já tive inveja de alguém e desejei ser ela. Já me questionei sobre a fome na Africa e pessoas que ganham milhões. Já tive preguiça de levantar da cama e enfrentar mais um longo dia.
E o engraçado é que todas essas coisas estão no passado quando fazem parte do presente. 


—  Gabriela S. Pinho

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