sábado, 7 de abril de 2012

Bom dia senhora, em que poderia ajudar-la?


A inconveniência dos telemarketing lhe faziam pirar, ficava tonta com essa coisa de telefones, empresas que ficavam tomando horas de seu precioso tempo lhe deixando ouvir aquelas mensagens gravadas ou musiquinhas irritantes, falavam tão rápido que as vezes era preciso reouvir 30 vezes a mesma coisa, sem falar de todos os números que se apertava antes de falar com um atendente, e os dias que levavam para resolver seu problema. 
Só de ouvir aquelas vozes já tinha vontade de jogar o telefone, os atendentes, a empresa ou ela mesma pela janela. Tinha prometido a si mesma que só em ultimo caso, só se fosse o ultimo trabalho do mundo, só se passasse fome trabalharia em algo desse tipo. Ela realmente parecia pirar com esse tipo coisa, já não era sociável, sendo obrigada a falar então, virava grossa e totalmente sem paciência, se algo poderia fazer-la fechar a cara e deixar-la com raiva era ter que passar por isso.
Odiava ir a casa da mãe, que já chegara a uma certa idade, era daquelas que aceitava todas as ofertas e acabava endividada sem nem saber porque ou como parar de receber tais ligações e tais produtos que levavam a outras ligações e a outras empresas, e assim sucessivamente. A cada vez que chegava lá, tinha de duas a três coisas a resolver, cancelar a maioria deles e negociar o resto.
Telefones, telefones, telefones. Tudo dependem deles, “liga pra cancelar tal coisa”, “liga pra marcar ou remarcar o médico”, “liga pra avisar”, liga, liga, liga, liga, ….
Claro que certas vezes são bem eficazes, era a única maneira de falar com seu pai, que havia se mudado e tinha ido morar com a terceira mulher, quase 25 anos mais nova que ele, em uma pequena cidade na calmaria do interior de Belo Horizonte. Ele quase nunca dava noticias, mas parece que tinha uma casa confortável, com dois ou três cômodos, ligava uma ou duas vezes por mês só para ela, a filha mais velha de um tanto de casamentos, sempre amou todos os filhos igualmente, mas tinha uma certa afeição por ela.
Fora isso ela achava telefones completamente desnecessários, achava que deveria ter vivido nas épocas das cartas, onde receber noticias de três em três meses era um motivo de alegria. O aperto no coração de não saber se o amado chegaria da guerra vivo ou não, no dia, na semana ou no mês seguinte. O friozinho na barriga de ver-lo voltar para seus braços tristonho por ter perdido os dias de sol com as crianças ou até contentamento por ele ter chegado atrasado no natal, mas mesmo assim ele ter ido.
Hoje é quase que obrigatório receber ligações.


Gabriela S. Pinho

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